segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Devo admitir que não sei o que escrever. Que vontade de pensar em coisas escrevíveis enquanto como o croissant de frango da Padaria Central! E por que foi que eu não nasci com aquele botãozinho "Clarice Lispector on/off"?
Sempre me achei capaz de ser uma escritora. Acho linda aquela doação de alma pras personagens. Soa até nobre. Você pega uma parte sua, junta com outra parte que te pertence, embaralha com aquilo lá que você finge que é do outro e, no final, mistura com o que você acha que você é, foi, será ou deveria ser: eis sua personagem. Você pode até insistir que o produto final, de você, não tem nada. Mas não adianta. 
Vai dizer que Franz Kafka não tinha nada de Gregor? Como não ver Gabriel Garcia Marquez zanzando pelas ruas de Macondo? Jostein Gaarder não vê em Sofia sua miniatura feminina? Será que Lispector frequentou uma cartomante ou comeu uma barata, feito Macabéa ou GH?! Machado era Bentinho, Brás Cubas, Rubião e Capitu.

Verei muitas Natálias andando por aí...

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Eco

Carlos que era Dora que era Lia que era Léa que era Paulo que era Juca que era Dora que era Rita que era Dito que era Rita que era Carlos que era Dora que era Pedro que era tanto que era a filha que era Carlos que era Dora que era toda a quadrilha.
Vive-se num mundo impessoal. Tão impessoal a ponto de se deparar com aquela pessoa diariamente, no mesmo horário, na fila do pão ou no metrô, e fingir que as pessoas assim são meros figurantes contratados para tornar o seu cenário diário mais vivo.
Mas nem sempre é assim. Há pessoas que, sem querer, tomam posse de características alheias. E, às vezes, nem em troca dão algo. Roubam, descaradamente, sem bater na porta, sem pedir licença, sem necessariamente comungar dos mesmos sonhos. Elas se sentam, se apresentam, ficam tímidas nos primeiros cinco minutos, riem de tudo, falam alto ou baixo e levam o que de você soou melhor: um olhar, uma piada, uma mania, um convite pro cinema ou, quem sabe, só seu tempo. Mas elas levam consigo.
Há ainda aqueles que se vêem em você. Esses largam tudo que lhes pertencem e enfiam em seus bolsos tudo o que lhes apeteceram. E é nessa troca que se perde a noção de origem. Sabe-se, sim, que o que lá existe nem sempre existiu, mesmo sem saber como tantas personalidades se fundiram e se tornaram a sua.
E será mesmo sua? Será, desde sempre, esse defeito seu? A vontade de conhecer a Grécia não surgiu ao se encantar com a leitura daquela tragédia grega que ele te recomendou? 
Cada um tem um pouco dos outros em si. Sejam eles inferno ou céu. Tentar dividir o que foi juntado é perda. Perde-se o eco e vira-se um.

domingo, 26 de outubro de 2008

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As mãos não mais se encaixam ao corpo. São autônomas. Suam, respiram, escrevem, sonham.
Perambulam habilmente e, sem querer, sentem. Do rosto às pontas dos cabelos lisos, da nuca aos olhos que são olhos e mais nada.
Tão pequenas, poucos centímetros. São enormes, gigantescas quando reconhecem-se...
Têm vida própria mas são só mãos sem corpo.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Inábil

Mais do que nunca, inábil. Nunca pensei que a incompetência de antes poderia duplicar, triplicar...
Parece que quanto mais sente, mais difícil fica de jogar tudo pra fora e dizer: "Ei, você! Eu sinto tudo isso!". Não tô afim de dizer o que eu realmente sinto. Mesmo porque, isso não mudaria muita coisa. Inabilidade de antes que se transforma em consciência hoje.
Tudo faz (ou não) muito sentido.
Um mês, exatamente um mês, pra tudo ebulir de novo.

Toda aquela angústia constante. Todo aquele sentimento permanente-mutável.